sexta-feira, 11 de março de 2011

CONEXÕES ALTAMENTE PERIGOSAS

Consta-se que Hitler tenha dito: "Aquele que não possui o poder perde o direito à vida". Os nazistas foram derrotados ao final da segunda guerra mundial, mas a essência da ideologia nazista ainda corre bravamente nas veias da essencialmente materialista sociedade humana, encarnando suas ações, sobretudo, no modo nazista como os seres humanos, quase generalizando, tratam os animais não humanos. Digo nazista porque há muitos e substanciais paralelos no modo como os nazistas torturaram e exterminaram cerca de seis milhões de judeos em seus campos de extermínios, e no modo como são torturados e exterminados, atualmente, bilhões de animais nos campos de extermínio da criação intensiva de animais destinados ao consumo dos humanos comedores de carne, e nos laboratórios que realizam a vivissecção, por exemplo. Mas por quê se condena com veemência o modo como os nazistas trataram os judeos e ciganos (os nazistas também trataram de modo similar, mesmo pior, os animais não humanos que tiveram a infelicidade de se relacionar com eles), mas se acha aceitável o modo nazista como são tratados os animais não humanos atualmente? Uma boa pergunta para a qual eu não tenho necessariamente uma boa resposta; porém, posso tecer alguns comentários que vão de encontro a uma boa resposta a tal pergunta tão inquietante: Desde criança vem-se gravando em nosso conjunto de valores a ideia de que há uma espécie de barreira entre os seres humanos e a natureza (os animais não humanos estando incluídos na natureza), similar à manobra usada para separar o princípio divino, Deus, da natureza, dos seres humanos, por exemplo. Essa fragmentação forneceu base suficientemente sólida para apoiar a ideia da supremacia dos seres humanos frente aos outros animais, e daí, na prática, foi necessário só um pulinho para chegar à ideia que os animais não humanos nascem para servir à humanidade sem nenhum limite ético considerável para tal prática insana, e tais ideias foram, e são, vigorosamente defendidas pelo cristianismo, por exemplo. Não é por acaso que o cristianismo agiu com indiferença à escravidão dos negros, à perseguição e à matança de milhões de judeos e ciganos nos campos de extermínio nazistas, e age com assustadora indiferença ao modo nazista como são tratados os animais não humanos pelos seres humanos que se dizem civilizados e cristãos. Inclusive, o historiador David Stannard afirma que o caminho que conduzia a Auschwitz (o maior matadouro humano da história da humanidade, construído e administrado pelos nazistas) foi traçado nos primeiros dias do cristianismo, mas a escritora Elie Wiesel acrescenta uma outra conclusão evidente: "Antes de chegar a Auschwitz, o caminho passou pelas Antilhas, a América do Norte e do Sul". Porém, evidentemente, a princípio, algo não está encaixando muito bem: Os negros escravizados, os judeos e os ciganos exterminados eram seres humanos, e mesmos assim os brancos e cristãos do Brasil e da Alemanha, por exemplo, agiam, de modo geral, com enorme indiferença ao tratamento desumano imposto aos negros, judeos e ciganos, justamente porque estes sofreram uma espécie de processo de desumanização ao serem identificados com animais não humanos (porcos, cães, insetos, vermes, etc), e assim serem considerados como subumanos, com intuito de diminuir razoavelmente a resistência do restante da população a tais práticas diabólicas; mesmo porque, na população que se acha superior aos negros, judeos e ciganos, já estava bem digerida a ideia que o ser humano tem o direito de fazer o que bem entender, inclusive torturar e assassinar de modo bem cruel, com um animal não humano, e tal raciocínio foi muito usado na história tenebrosa da humanidade quando um grupo humano majoritário entendia que deveria subjugar, ou mesmo exterminar, um certo grupo humano minoritário.
Esse comentário ilustra de modo eloquente como a exploração dos animais não humanos serve de inspiração, de modelo e de treinamento para toda forma de exploração conduzida por grupos humanos imposta a outros grupos humanos. Milhões de judeos comedores de carne, que assim alimentavam a atividade diabólica da produção intensiva de animais não humanos, durante a segunda guerra mundial, sentiram na pele o que é ser tratado como um objeto vivo, pois, por exemplo, uma quantidade enorme de judeos foi transportada em vagões que eram usados para o transporte de gado, e nesse lugar macabro, a caminho do matadouro, o judeo pensa: "O que outrora eu ajudava substancialmente a fazer com o gado, direta ou indiretamente, atualmente os nazistas fazem comigo, eu mesmo já me sinto bem rebaixado da minha condição de ser humano, e sinto também que é muito difícil não ceder a essa enorme pressão dos nazistas, pois claramente eles nos vêem e nos tratam como bois ou porcos, que entendem que nascem para servir à humanidade, e quando eles entendem que os animais, humanos ou não, não servem mais para a humanidade, eles tentam por vários meios exterminá-los, como se extermina ratos, sem dó e nem piedade".
Johanns de Andrade Bezerra